terça-feira, 22 de setembro de 2009

'¿Quién llenará de primaveras este enero, y bajará la luna para que juguemos?'

Achei quem me trouxesse primaveras. Em janeiro, março, abril, maio... Começando por agosto.
Em agosto eu já estava preparada para o desgosto (ahá), pois um mês não poderia superar os últimos dezenove ou vinte. Estava acostumada com o desgosto e com o frio do inverno em que vivia já um tempo. Sendo justa, o inverno tinha sido substituído por um outono as avessas, aonde as folhas cinzas e quebradas do chão começaram a reassumir a cor laranja e eu percebia aqui e ali já alguma verdinha em uma ou outra árvore. Mas o clima continuava frio então o alaranjado no chão ainda não surtia grande efeito.
A primavera veio de repente, em uma noite despreocupada e despretensiosa em Botafogo. Podia ter sido no Flamengo e aí eu acrescentaria um parágrafo ou dois de besteiras relacionadas ao bom gosto, mas, enfim, foi em Botafogo.
Eu não percebi a primavera chegando, nem mesmo pela mudança brusca de temperatura que bem podia ser tomada como verão, já que antes ela teve que derreter todo o gelo acumulado do inverno longo. Mas assim que a primeira lufada de calor me alcançou, quase como quem diz adeus -e quase na hora em que eu prematuramente dizia adeus enquanto arrancava as folhas verdes do galho não sem alguma violência e algumas lágrimas presas-, eu despertei. Aquele calor que tinha cheiro e gosto e forma estava indo embora bem quando eu percebia no chão grama, flores, cocô de cachorro e outras coisas que estavam apenas esperando para serem notadas. As crianças agora riam e eu ria com elas. Os passarinhos cantavam e isso me deixava animada. E corri. Corri atrás daonde vinha o ventinho quente e convidativo.
Achei.
Me achei.
Achei o vento quente que soprava em direção a um caminho mais feliz.
Achei o caminho.
Achei o pote de ouro sem seguir o arco-íris.
Achei quem me trouxesse primaveras. Em janeiro, março, abril, maio...
Achei quem pode não baixar a lua, mas faz melhor, me leva até lá constantemente. Afinal, ela é logo ali.
Achei, quem sabe, a fórmula do amor (e se não achei é porque ela não existe mesmo).

P.S.:A gente pode procurar a nossa sorte, a gente pode arquitetar toda uma sorte de vida, mas a gente também pode esbarrar com ela.

Arquitetos da própria sorte....

O primeiro semestre veio como o futebol... Uma caixinha de surpresas!
Ok, péssimo, detestável, mas sem preconceito linguístico!!
Uma caixinha de surpresas agradáveis, um mundo de descobertas... Experiências novas de todos os tipos, experiências pessoais que eu não imaginava no ano anterior.
Emma Bovary me trouxe sorte com todo o seu azar, felicidade com todo o seu sofrimento e não parece que já se passaram mais de doze meses desde meu primeiro dia de aula, desde meu primeiro almoço no bandejão, desde a primeira vez que o LF me inspirou, desde a primeira aula de literatura que eu cochilei, desde a primeira mensagem linda de madrugada.
Experiências novas fora e dentro do adorável campus do Gragoatá e o mundo parecia caber na minha mão.
Um milhão de planos, um milhão de ideias (ainda com acento), um milhão de textos.
O segundo semestre veio como um banho de água fria no calor do verão (nota: é uma delícia no momento, mas depois bate aquele friozinho e uma vontade de deitar e dormir). Já não achava tudo tão genial, já não corria pra pegar o ônibus. Digamos que passei mal algumas vezes a mais do que o normal, digamos que demorei mais tempo lanchando do que o necessário. Mas ainda assim havia uma centelha, um restinho da fogueira que o primeiro mês acendeu.
Ainda existiam discussões interessantes, ainda encontrava coisas a serem pensadas. Ainda havia alegria e elogios e sorrisos e gargalhadas.
A alegria hoje eu achei escondida atrás de comentários na aula de linguística. No terceiro semestre, que veio como uma gripe forte. A alegria que me sorriu hoje não é suficiente pra me fazer esquecer a gripe. É uma alegria que eu sei que está com a companhia e não com o lugar. A alegria encontrou a tristeza por estar numa aula que eu não queria estar, num curso que não me atrai mais em nada. E elas brigaram. A alegria tentou dizer que podia ser como antes, mas não pode responder a nenhum dos argumentos da tristeza e ficou triste também.
Não se pode ficar triste com a perda de uma coisa que não se vai perder, então não estou tão triste assim, porque os amigos serão amigos não importa em que campus eu esteja. Amigos antigos e amigos novos.
O que a tristeza grita, enlouquecida, é "Quaaal campuus??". E eu não posso responder, apenas passar a mão na sua cabeça e aconchegá-la no meu peito olhando para o meu 'projeto de sorte' esboçado na minha cabeça.