sábado, 11 de fevereiro de 2012

Carnavalesco

Cadê o bloco do Eu sozinho? Esse ano ele não sai. O único integrante esqueceu-se.
Esse integrante não está carnavalesco porque não sabe como ser. Esse integrante não estava natalino porque não sabe como ser e também não estará junino porque não sabe mais como ser. Não sabe mais como ser ele mesmo.
Quem é ele? Do que ele gosta? Quanto ele veste? Quanto ele tem na conta? Qual o último filme que viu no cinema? E o livro da cabeceira, cadê?
Ele sorri, mas o sorriso não é da alma, os olhos não traduzem mais lá muita coisa, ele não ri de si mesmo.
O cara que costumava se amar e ser feliz com as menores coisas está entre a autopiedade e o autodesprezo. Quando não está morrendo de pena de si mesmo, ele chega a sentir repulsa dessa criatura sem graça.
Ele não escreve mais sobre as milhares de coisas que vê, ouve, pensa. Será que ele ainda pensa? Sei que pensa que a sua mente parou de brilhar e que se alguem procurar, não vai mais achar na escuridão da noite. Ele já não se considera um destaque na multidão, se vê agora como mais um medíocre que se entregou à vida. Predeu a batalha com o cotidiano, forte combatente.
Toda a genialidade deu lugar a toda a angústia que o enlouquece.
Acho que ele já deu tudo o que tinha para dar. Já chegou no fundo do poço particular de emoções torpes.
Ele me disse uma vez que era a ovelha negra, mas acho que está na hora dele ser o pássaro negro.
Então, meu querido blackbird, take these broken wings and learn to fly.
Se cuida, te vejo na próxima sessão de análise.