quinta-feira, 29 de maio de 2008

A grama do vizinho é sempre mais verde??

Ele saiu como se não tivesse entrado. Se não fosse uma pequena variação de humor percebida apenas por poucos mais íntimos, todos diriam que ele não chegou a entrar. Mas entrou e ficou lá dentro um tempo que talvez não tenha sido suficiente ou suficientemente bom para fazê-lo ficar ou ao menos sair um pouco mais penosamente. Saiu e resolveu esquecer que tinha entrado. Era melhor assim. Ele não era um cara que aceitasse sofrer e ainda mais por ela.
Ela? Ela ficou lá. Não teve coragem de sair. Já tinha esquecido como era o mundo lá fora. Se sentia fraca, desprotegida e muito despreparada. Ficou. Mas era triste demais, solitário demais, estar sozinha num lugar para dois é duplamente mais complicado do que dividir uma cama para um com um outro. Várias pessoas que gostavam dela tentaram ajudar pela janela, não podiam entrar num lugar que tinha o tamanho de outra pessoa. Feito na medida certa (para a pessoa errada?) e agora sobrava um espação. Ou faltava? É, faltava alguma coisa. Ela rondou e rondou a porta depois de quase súplicas dos prezados amigos. Resolveu sair. Meses (ou teriam sido apenas minutos?) depois a porta se abriu de novo. Não foi como da primeira vez, de uma maneira quase fugitiva e secreta, foi com um receio de não conseguir e várias mãos esperando. E então ela também saiu. Sentiu o calor do sol de novo no seu rosto e o vento que levantava a saia fresquinha de verão. Sentiu todo o calor humano que esperava por ela de queridos amigos e de queridos desconhecidos que ia conhecer por aí. Saiu levando com ela nenhum móvel, mas todo o amor que houver nessa vida que eles juntaram lá dentro, do qual ele não levou, infelizmente, nada.
Olhou pra trás, para a casa tão bem cuidade durante tanto tempo, para a casa que se pudesse falar contaria coisas lindas e tristes, para a casa que ela estava deixando de vez para trás.
Ele, que já estava em outra casa nas redondezas, assistiu assustado, de uma janela apertada, a sua saída, que estava pegando-o totalmente desprevinido, pois esperava vê-la sempre abrindo as janelas, arrumando a casa que já não mais frequentava, cuidando sozinha de um amor que deveria estar esperando, quietinho, pela sua volta.
Ela sabia que ele estava olhando e que olharia por mais algum tempo das janelas (aliás, incomparáveis com as dela) da outra casa, mas não se importou. Nem com ele, nem com a casa.
Olhou mais uma vez para sua antiga casa, suspirou, fechou os olhos e respirou bem fundo para guardar tudo que era bom, soltando depois, entre risadas, tudo de ruim que ela não queria levar.
Abriu os olhos e sorriu. Sorriu para a alegre nova vida que a esperava e para as novas casas que viriam por aí e para aquela casa, que ela não conhecia ainda, mas sabia que na hora certa iria entrar pela porta principal para não mais sair.

terça-feira, 27 de maio de 2008

pontocompontobêerre

Ela se orgulhava de ser uma mulher moderna. Aproveitar ao máximo tudo que a tecnologia tinha a oferecer.
Fazia compras passeando pelos sites. Até supermercado era sentadinha na sua confortável cadeira de couro sintético branco.
Escrevia críticas gastronômicas para uma revista importante e só saía de casa para o seu delicioso trabalho. Ou para resolver problemas na escola dos meninos.
Adorava dizer que era "mãe de dois" só para ouvir "nossa, com esse corpo??". Mas gostava ainda mais quando diziam que eram "ótimos meninos" e que "criar meninos não é fácil". É, ela sabia que não era. Ainda mais sem um pai por perto. Nem o seu pai estava mais ali, mas tinha tido grande papel e importância na vida dos seus meninos até a hora de ir. Agora era só ela e os dois. E ela se virava bem.
O trabalho com horário "livre" era perfeito e resolver as coisas por computador deixava todo o resto do tempo para o que dava mais trabalho, ser mãe.
Enquanto pagava contas, escrevia para a coluna e comprava coisas, o messenger estava aberto, os scraps eram respondidos e é aí que começa o que eu vim contar.
Achou umas fotos dentro de um livro que leu quando estava na faculdade. Fotos de uma viagem, um feriado prolongado em Verão Vermelho, o point entre os amigos da época. Abriu logo a janela de uma das personagens das fotos e começaram a relembrar esses tempos. Lembraram de uma banda que ouviram em um sarau, no bar mais 'descolado' da pracinha, e gostaram bastante. Lembraram o nome da banda e ela arriscou procurar no MySpace. Claro que achou, senão não teria o que ser contado, mas para ela foi só mais uma prova das maravilhas da Internet.
Bom, achou os caras, perguntou se eles se lembravam do sarauzinho e resolveu manter contato, relembrar uma época que não pensava em filhos, em contas nem em Internet.
O vocalista tinha morrido de overdose, eles já estavam com outros há uns anos, mas tirando isso a banda era a mesma.
Depois de dias conversando com o tecladista (viúvo e inteirão), descobriram uns dois ou três amigos em comum, vários interesses e 'causos' parecidos e assistiram à mesma palestra sobre "Liberdade de expressão".
Lógico, marcaram um chope.
E de repente, ela se sentiu com nervosos 20 aninhos de novo. Não sabia o que vestir, não sabia o que calçar, não sabia o que dizer, pensou em dizer que estava com dor de barriga. Ah, não! Dor de barriga não! Pelo menos podia dar uma desculpa de 40.. Problemas com os filhos. E se podia dar uma desculpa adulta, poderia ter uma atitude adulta! Poderia? Unhas quase roídas e um pacote de biscoitos a menos na despensa... Resolveu que ia sim! Vestiu um jeans não muito apertado, uma blusinha, aquele casaco novo e... um salto! Afinal, não tinha mais 20. Cabelos presos ou soltos? Já que não tinha lavado, foi com eles presos (num rabo-de-cavalo talvez um pouco alto demais...).
Deu um beijo nos filhos, passou um batonzinho e foi curtir a vida aonde as pessoas olham nos olhos e não para as fotos e nós ouvimos uma voz e não um barulhinho quando falam conosco.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sweet Child O' Mine

Algumas coisas que nos teletransportam pra láá das lembranças dos nossos anos dourados na infância são maravilhoosas.
Você pára cansado seu carro num sinal inconveniente e uma criança brincando com uns bonequinhos no carro ao lado te levam de volta 30 anos, em direção àquele menininho levado que não se continha dentro de carros e perguntava toda hora se já estavam chegando. Menos na escola.
Aquela praia que era atravessada correndo agora te tem sentada, calma, para o mar que já não parece tão convidativo com suas águas que agora parecem mais geladas e menos doces. Mas você não pode se prender ao mar nem às lembranças, os seus três filhos estão brincando na beira e dois deles começaram a trocar socos e empurrões. Um dos brigões é sua menininha. Anda, vai lá, levanta antes que alguém se afogue.
Um cheiro leva você de volta a cozinha da vovó fazendo aquele bolo preferido. E era surpresa, então sai correndo de volta pro jardim. Ou lembra aquele quarto em que parecia que o mundo era inofensivo e só girava lá fora. Aqueles lençóis que passaram tanto tempo com você e que depois de alguns anos pararam de cobrir aquela cama. O que será que aconteceu com aqueles lençóis? Você chegou a pedí-los especiais no testamento e eles se foram?
Os cabelos da "tia" da creche parecem os cabelos da sua mãe. Os olhos enchem d'água e você tem vontade de deitar no colo desses cabelos por não poder mais deitar no da sua mãe.
Lembranças lembranças. Te mostram como é doce aquela criança que você esqueceu (não, ainda não está na hora de buscá-lo no colégio). Antes, as provas, os amores, as festas. Depois os compromissos, as contas, o horário apertado do trabalho, as novas crianças, foram empurrando o seu pequeno "eu" (não eu, você) lá pro canto, como suas bonecas no fundo do armário, daonde ele ainda sai contente quando vê algo que goste e que o lembre a você.
E aí está a felicidade. O reencontro de dois importantes "eu" (não eu, você), felizes por sentirem a mesma coisa, por verem a alegria num mesmo ponto.
Vamos lá, o sinal reabriu, a criança do carro ao lado já desapareceu no trânsito "and if I stay there too long I'll probable break down and cry".

sexta-feira, 23 de maio de 2008

"Eu tive um sonho ruim e acordei chorando, por isso eu te liguei"

Ele abriu os olhos e logo viu que estava preso. Na verdade, ele não viu absolutamente nada. Ver aqui é força de expressão, assim como "se viu numa grande enrascada" ou "viu que seria uma grande aventura" (créditos à sessão da tarde), ele sabia que estava preso, só não sabia aonde. E não lembrava de nada.
Tentou se mexer. Apertado demais. Tentou sair. Impossível, bateu e se debateu. Continuou na mesma. Agora um pouco suado e com uma ligeira falta de ar.
O silêncio voltou aos poucos e deu lugar a uma voz. Não, não era a voz de Deus. Era a voz da sua namorada. Aliás, agora noiva.
"...porcariaa de futebol com seus amigos..."
"...amigos que não valem nada..."
"...ela está chorando...levanta você dessa vez..."
"...certo sair pra bebeeer depois do trabalho?..."
"...bela desculpa..."
"...acordada a noite inteira cuidando do seu filho..."
"...pegar suas roupas sujas pelo quarto..."
"...tampa do vaso sanitário...pia molhada..."
"...somos bons amigos também..."
"...trabalho, trabalho, trabalho..."
"...almoço na casa da mamãe..."
"...eu te amei...quero a separação...as crianças...você sai..."
O ar restante agora era tão raro que ele pensou em quanto ele valeria no mercado se houvesse um.
Desesperado, recomeçou a bater na madeira em volta. O barulho terrível das batidas secas se tranformou no reconfortante barulho do despertador.
Ele nunca gostou tanto do sol da manhã no rosto e nunca olhou tão pensativo para a foto que estava no porta-retrato na cabeceira, com "eu te amo" em cola-colorida vermelha.
Sim, era o dia do casamento.

Cego se apaixona "à primeira vista"? ou Existe o tal amor à primeira vista?

Resposta mais absurda a essa esdrúxulérrima enquete televisiva: "Sim, já que o que importa está dentro da gente!"
É, realmente o que importa está dentro. Logo, conclui-se logicamente que, cego ou não, não se apaixona à primeira vista.
Você sente atração.
Você gosta disso e desgosta daquilo.
Você pode até achar que encontrou alguém perfeito.
É super legal, até que a pessoa abre a boca e despeja quilos de porcarias em cima de você ou faz a única coisa que não poderia fazer.
Você acha a pessoa "mais ou menos".
Você mal repara nela.
Você não viraria para olhar duas vezes na rua.
Até que a pessoa abre a boca e você se encanta ou faz várias coisinhas que te sacodem em algum cantinho e você olha de novo, diferente.
Não nos apaixonamos à primeira vista e não nos desapaixonamos à segunda.
Não amamos ninguém de um dia para o outro e não desamamos da noite para o dia. O amor vem aos poucos e é maravilhoso. Mas ele também vai aos poucos, machucando várias vezes. Ou fica esperando em algum lugar. "Rosnando baixinho para ser ouvido até mesmo debaixo de chuva..."
Ou vai embora num baque surdo quando surge um novo amor. Dizem até que nada como um novo amor para esquecer um grande amor.
Amor amor amor.
Tenho pensado muito nisso.
Não pense, ame!

domingo, 18 de maio de 2008

'Deus sabia de tudo!! E não fez NADA!?' ou 'Uma nova história da Criação.'

Sim, eu sei, religião não se discute, mas foi o Paulo que começou!!
E, de qualquer jeito, não vou discutir (alguém aí já chegou no ponto em que se discute sozinho? Conversar, ok, mas discutir? Não sei não...), vou comentar.

(Plagiando a Capricho e o Antonio Prata) Estive pensando...
Pra começo de conversa, se Ele não fez nada, tenho que definir a existência de um Ele.
Não, não aperta o xis. Eu não vou puxar uma Bíblia nem tentar te converter! Aliás, não poderia te converter a nada. Como o assunto aqui não é religião, e sim atos e culpa, não entrarei nele!
Sim, culpa! O que você acha? Olhe em volta! Olhe pra você! Alguém TEM que ter culpa! E eu não irei colocar a culpa em mim! Ih, pode tirar esse sorrisinho da cara! Nem vem! A culpa não é minha!
Tá, calma, podemos aceitar a reconfortante (?) idéia de que existe alguém que tinha uma até boa idéia na cabeça, mas pulsos não muito firmes e um humor brutalmente instável?
Beleza! Vamos lá...
Vou pular a parte de quando ele teve a brilhante idéia de inventar algumas criaturinhas e criaturonas e colocá-los a viver num mesmo grande e belo planeta, aonde havia alimento, água, espaço e felicidade para todos. É, foi assim. E foi durante um banho enquanto Ela não chegava. É engraçado como as idéias gostam de surgir durante banhos, né? É um pequeno problema já que até você sair do banho e anotar para não esquecer, os pequenos e importantíssimos detalhes já se foram. Como, por exemplo, a planta que curaria a Aids, o tipo de minhoca que seria uma super-arma contra todos os tipos de cancer e a geografia correta do Nordeste, para que chovesse em todas as épocas do ano... É, pequenos grandes erros... Primeira culpa d'Ele. Estão anotando? Excelente! Prosseguindo... Até o momento em que a centelha de idéia mais brilhantemente desastrosa O atingiu. Não, dessa vez não foi no banho, foi durante um cigarrinho (que Ele fez questão de experimentar quando se viu encantado pela geometria da planta -e adorou) depois de... Bom, vocês sabem! A censura não me permitiu ser mais clara. Enfim, ele se encantou logo com a idéia de mais bichinhos em seu planeta. Mas bichinhos diferentes. Bichinhos que sentissem as mesmas coisas que Ele sentia, mas que fossem fisicamente como Ele gostaria de ser. Sim, partindo da idéia que Ele e Ela são apenas massas sem forma, mas tomam banho e... outras coisas, Ele deu a forma que queria. Pelo menos ao Adão. E a Eva o que Ele esperava d'Ela, o que causou um ciúme no comecinho do projeto, que passou assim que ele mostrou a Ela o que a gravidade era capaz de fazer. Ah sim, gravidade essa que foi inventada por Ela. É, você não sabia? Pois bem. Ela inventou algumas outras coisas também. Coisas que os filhos de Adão acham terem sido inventadas, ou descobertas, por eles. Doce ilusão masculina, não?
Continuando antes que me estenda demais.
Ele colocou em suas novas criaturas sentimentos grandiosos como admiração, respeito, lealdade e equilibrou com inveja, mesquinharia, traição. O que me faz lembrar do grande amor com todo o seu mistério, seus enigmas, suas tristezas. Esse foi o segundo erro. Anotem. Acrescentar o amor coloca a culpa de muita coisa nEle.
Nesse instante o planeta ficou pequeno demais. Pequeno para que dois seres tão diferentes convivessem em total harmonia. Pequeno para se fugir de quem não se quer ver nem pintado e se acaba esbarrando na portaria. Pequeno, às vezes também, para amar. É, surpresa!, não sou contra o amor, mas que Ele, por nos sujeitar a isso, tem grande culpa, ah isso tem!
Agora que já estamos vivendo neste planetinha, é que as culpas se atropelam!
Ele perdeu o controle há muito tempo, e nós fomos à Lua! Injustiçamos e massacramos povos e etnias! Criamos destruição em massa com algo que Ele julgava tão pequeno que nós nunca daríamos por existir (com um leve apertar de botões, BUM! lá se foi o planeta!-idéia que O faz ter crises terríveis de gastrite e lançar um ou dois terremotos). Inventamos vírus em laboratórios. Destruímos florestas, acabamos com espécies, acabamos com culturas. Matamos uns aos outros e a nós mesmos. Dizemos ser em Seu nome, ou por amor. (Ah, sempre o amor!)
Mas Ele percebeu mesmo que era uma situação calamitosa quando viu o Lula no poder, e chorou. Sim, ele também chorou durante essa loucura de dengue, e doeu mais porque, no fundo, Ele é brasileiro!
Acho que agora seria a hora ideal para eu dizer que me sinto mais leve tirando toda essa culpa que me atormenta a cabeça há alguns anos. Mas não posso dizer isso, já que a culpa é nossa. É, divido ela com vocês. Nossa! Nós matamos, roubamos, traímos mentimos descaradamente porque queremos, porque nos beneficia! E a culpa não é só de quem comete, mas também de quem cala.
Ele sabe de tudo sim, já que tem uma visão privilegiada na frente do seu computador (é, como você se sente jogando The Sims, mas um cadinho mais complexo), Ele tenta nos avisar em todo momento, mas estamos com os ouvidos já tampados, tentando fugir dessas verdades baixas que nos assombram no Jornal Nacional. Nos assombram nas crianças que fazem malabarismos nos sinais. Nos assombram nas crianças que voltam para casa mais cedo, assustadas, do colégio porque está tendo tiroteio outra vez, ou porque a professora não foi outra vez. Ou nas crianças que chegam em casa com fome porque a verba de merenda escolar foi desviada e vão continuar com fome porque todo o salário medíocre que chamam de mínimo não dá nem pra alimentar os cinco irmãos metade do mês. Nos assombram também quando vemos o filho do nosso vizinho, na quadríssima do Leblon, sendo preso por tráfico. E nos assombram mais ainda quando sabemos que ele vendia para os "nossos meninos". Mas infelizmente, a gente só acorda desse transe quando alguém não volta pra casa, quando uma bala perdida acha alguém querido ou quando o motorista (com a carteira tão nova que parece quente, saída do forno -um garoto, um moleque) que bateu no carro da sua filha, que saiu da pista e entrou na fatal contra-mão, admite que estava bêbado. Quando é tarde demais. Tarde demais para? Não, não é tarde demais. A chuva ainda cai do mesmo jeito, o sol continua firme e forte e, por incrível que pareça, a gente continua vivendo, sentindo e amando.
Esse maldito desse amor é mesmo a maior culpa dEle! E o maior dos seus presentes!
É ele que dá gás aos revolucionários e suas revoluções, tinta à pena do poeta e ao pincel do pintor.
E, já que Deus não faz nada, façamos então, nós! Pintar o rosto ou usar flores contra armas seria clichê demais, eu sei, mas criatividade!
Somos mais preparados que o nosso presidente e isso já é um grande começo.
Já que, dizem, Ele escreve certo por linhas tortas!
Vamos escrever também!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Poderia ser uma carta...

Aonde tudo começar a desandar? Não conseguimos permanecer tempo suficiente na "era de ouro" e começamos a descer bem mais rápido do que subimos.
Brigas por motivos ridículos (agora eu vejo como eram), discussões e mágoas. Telefonemas durante madrugadas tristes e scraps apagados sem resposta. Aonde tudo começou a dar errado?
Deixamos as palavras saírem como queriam e elas cortaram de um jeito que nem todo o amor que sentíamos conseguiu curar.
Quando você deixou de me adorar e somente a mim? Quando eu deixei de te amar?
Erramos sim, nos precipitamos a fazer algo que não estávamos preparados, nos jogamos de cabeça. Fomos fundo demais, rápido demais, bebemos tudo em poucos goles. Fiz coisas que me arrependo (logo eu, que tento fazer tudo tão certo para não me arrepender) e você também deve ter lá no fundo os seus arrependimentos (você, que sempre guarda tudo tão fundo, que parece tão forte). Poderia jogar toda a culpa em você e dizer que você trocou o certo pelo indefinido, o válido pelo afoito, mas até que ponto é um erro só seu?
O erro foi nosso, mas caramba, o erro só foi resultado de uma tentativa de acerto. Não pensávamos em errar. Não, de verdade. Não mesmo.
O que ganhamos nisso tudo? Um sofrimento interno desconcertante, uma saudade de alguma coisa que parece ser maior que a fome e que o frio, essa presença forte de um vazio que afasta o sono durante várias e longas noites.
Mas agora o orgulho não vai nos deixar voltar atrás. E não seria justo comigo, nem com você, com o nosso amor ou com o que a gente costumava chamar de "nós dois".
As tristezas, decepções e batidas contra a parede não matam. O melhor é enxergar como um grande aprendizado.
Nós vivemos grandes e belos momentos. É bom tirar essas experiências positivas desse doloroso final negativo. Deixemos as mágoas e os sentimentos ruins de lado para podermos de novo sorrir um para o outro. Um dia, quem sabe?
A gente ainda acerta.

Lágrimas e Vinhos

(Aproveitando a onda de sentimentos do Dia das Mães para matar dois coelhos)


Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. Eu acredito que seja exatamente isso. Como o gosto do vinho bebido, tremendo, em uma crise de choro. O doce e o amargo juntos. A realidade forte contra a suavidade do sonho.
É amar alguém de uma forma tão incrível que faz seu primeiro amor parecer tão emocionate quanto um comercial de leite em pó. É dizer não pra quem quer que seja, é ir contra tudo que for contra aquela pequena parte de você. É chamar de príncipe aquele marmanjo que tem três tatuagens e sai pra beber com os amigos e chamar de princesinha a mulher que sai dirigindo seu carro de manhã pra faculdade e só volta depois do trabalho e te liga pra saber se você quer encontrá-la na happy hour. Talvez porque eles ainda procurem o seu colo quando levam um fora (da vida ou de um amor) ou estão gripados. Talvez porque, pra você, eles sempre serão o menino de joelho ralado depois do futebol e a menininha pronta para o balé. E mesmo que seja a menina de joelho ralado com o futebol e o menino pronto pro balé, você vai amá-los do mesmo jeito.
Mas o que eu estou falando aqui? Não sou mãe e, embora sonhe com isso, não posso dar minha opinião.
Nesse mundo em que casamento é uma instituição falida e a maternidade um erro, eu ainda quero ser uma desperate housewife.
Espera que eu te conto como é!

Eu poderia suportar...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

São os amigos que vão te ligar para saber se está tudo Ok, são eles que vão sentar com você num boteco qualquer para tomar um chope, são eles que vão te levar para "se distrair" quando você só quiser ficar deitada na cama com um pacote de biscoitos, são eles que vão comemorar ano após ano os seus mais felizes (ou não) aniversários, são eles que vão odiar ou amar alguém por você, são eles que vão transformar qualquer momento em um momento de boas lembranças, são eles que vão estar com você naquela super viagem ou naquele final de semana falido, são eles que vão secar todas as suas lágrimas.
E você, como amigo, também vai ligar para eles para saber se está tudo Ok, também vai sentar em botecos e secar muitas lágrimas. Morrer de rir de um tombo e morrer de raiva quando alguém magoá-los.
Por isso que os amigos são mais do que os amores.
Os amores são realmente atraentes e deliciosos, mas não são amigos. Depois que a doce embriagez passa eles voltam a ser mais uma pessoa na sua história, mais uma lembrança (negativa e positiva ao mesmo tempo, sempre) e ficam no passado.
Os amigos que vão secar as lágrimas, ouvir o choro e ajudar a levantar estão sempre no presente, são presentes. E são, além de tudo, nossos grandes amores.

domingo, 11 de maio de 2008

Você, só você, todo dia, toda hora, exclusivamente você, ex-exclusivamente você

(No antigo quarto dela, adolescente, na casa da mãe)
-O que você quer dizer com isso?
-Você entendeu!
-Não, amor, eu não entendi!
-Não me chama de amor! Eu odeioo quando você me chama de amor no meio de uma briga!
-Ah, nós estamos brigando? E por qual motivo?
-Você não ter ciúme de mim! E SIM! ISSO É UMA BRIGA!
-É lógico que eu sinto ciúme de você! Mas você quer que eu faça o que? Arrume confusão com todos os homens que olharem pra você?
-Queria te ver armar uma cena, sim! Xingando e quebrando coisas, subindo em mesas de bar! Dizendo "aqui ninguém tasca, é propriedade particular!!"... Confesso que se teu rosto se transtornasse a minha alegria seria ainda maior! E acho que nesse momento não me importaria morrer, pois saberia que sentes por mim o mesmo que eu por você!
-Propriedade particular? Meu Deus, olha o que você está dizendo!
-Então agora você não vai mais me ouvir dizer nada!
-Podemos voltar pro jardim e pra festa da sua mãe?
(No jardim, nem duas horas depois, quando um primo do sul começa a fazer elogios exarcebados e comentários desnecessários durante uma conversa animada demais)
-Éé, né rapaz?! Eu também acho a minha namorada linda!
-
Calma, ela é minha prima, estamos aqui só conversando, não precisa dar uma de corno revoltado.
(Bom, alguns socos, palavrões e gritos femininos desesperados...)
-Você pode ir embora, acabou!
-Acabou o que?? Você não disse que queria que eu demonstrasse o ciúme? Demonstrei! E, na verdade, me senti bem com isso.. Há dias que esse seu primo vem me irritando com as suas gracinhas.
-Você arrancou dois dentes dele! Como eu posso confiar em alguém assim? E se um dia você resolver arrancar os meus dentes?! É sério, pode ir embora, eu deixo suas coisas na portaria do prédio da sua mãe, não quero mais te ver!
-Você está comentendo um erro! Você é LOUCAA!
-Eu estava louca, louca por você. Agora vai embora, assim vai ser melhor para todos.

"Saber é o que separa quem viveu de quem nem experimenta!"

Medo. Perturbação psicológica diante de ameaça ou perigo, real ou imaginário.
Esse talvez seja o maior ponto de ligação entre as pessoas.
Todos sentimos medo. Medo de avião, medo do escuro, medo de palhaços, medo de rejeição, medo de perder, de ficar sozinho, de altura. Eles não são bons, nós não gostamos deles, mas eles nos movem. A fazer coisas ruins, a deixar de fazer coisas ótimas e, às vezes, a fazer algo bom que não faríamos sem ele.
O maior problema é quando nos sentimos pequeenos diante dele e fazemos a sua vontade. Deixamos de curtir um momento, curtir uns amigos, curtir a nós mesmos, curtir um amor.
A meta é desafiá-los. Todos eles, um a um. Diminuí-los a simples receios e vencê-los. Eles não vão desaparecer, mas você vai adorar conviver com as suas "vitórias" em cima dele.
Então, saia, viaje, cante em karaokês, dance na chuva, recite poemas no colégio, acredite nas pessoas, confie em você, arrisque, ame, viva!
Só assim você vai se sentir bem quando fechar os olhos.

sábado, 10 de maio de 2008

Se alguém perguntar por mim...

Diz que fui por aí...
Levando um violão debaixo do braço
Em qualquer esquina, eu paro
Em qualquer botequim, eu entro
Se houver motivo é mais um samba que eu faço
Se quiserem saber se volto, diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim!

Ok, eu não toco violão, então se eu andasse com um debaixo do braço seria apenas pra carregar mais um peso.
Tá, eu também nunca escrevi nenhum samba e duvido muito que isso um dia venha a acontecer.
E se eu esperasse a saudade se afastar nunca mais voltaria (olha que pana!), já que a saudade continua ali, (não sei aonde é ali, mas é aonde a saudade e os sonhos que a gente sonhou com 7 ou 8 anos ficam) esperando uma horinha de reaparecer.
Mas em botequins eu tenho entrado.

Gostaria então de substituir. Sai o Ibson pra entrar o Obi... Quer dizer, vamos pegar o violão debaixo do braço e os sambas escritos em esquinas e botequins e colocar muitas idéias fervilhando e fugindo constantemente e alguns textos criticáveis escritos durante madrugadas na frente do computador.
Sim, "rabiscar" algumas várias linhas se deixando levar pelo último pensamento que mudou todo o parágrafo é mais fácil do que condensar tanta vida em alguns versos se preocupando com a musicalidade do negócio.
É, infelizmente não sou uma pessoa da música. Talvez por isso tenha cismado que sou então, uma pessoa das letras.
Quem sabe um dia eu escreva um livro inteiro que consiga passar a mesma emoção que uma música desinteressada do Cazuza consegue.
Eu prometo me esforçar se vocês prometerem ser condolentes.