quinta-feira, 31 de julho de 2008

Bichos escrotos

Muita gente acha que o ornitorrinco é que é um bicho muito escroto.
O Nando e mais alguns acham que bichos escrotos mesmo são aqueles que saem dos esgotos.
Outras pessoas acham que o dromedário é um bicho pra lá de escroto.
Já ouvi também que gambás e pitbulls são bem escrotos.
Eu não concordo com nenhuma dessas pessoas, exceto com o Nando. Não aprecio em nada os bichos que saem dos esgotos, por mim eles poderiam continuar por lá. Mas esses não estão no topo da minha lista, estão logo abaixo dos mosquitos.
O mosquito, ele sim, é um bicho escrotérrimo! É só você apagar a luz e se aconchegar na cama que ele vem fazer zzzzzz no seu ouvido até te deixar bem puto. Aí você se levanta e acende a luz pensando: "Agora eu mato esse escroto!", mas você só irá vê-lo a partir da segunda vez que se levantar pra acender a luz. Começa então uma perseguição fatal, é você ou ele. Ele está lá, paradão na parede, aparentemente rindo de você com os cabelos despenteados e a olheira um pouco pronunciada. Você está com seu chinelo na mão, pronto para o golpe fatal. Pá! Você levanta o chinelo e... NADA! Você vê ele passando pertiinho do seu nariz, numa clara provocação desnecessária, e táp! Abre a mão e... NADA!
Então, por isso, por perturbar o sono dos justos, por essa incrível capacidade de sumir que enlouqece qualquer um e por nos deixar coçando e provocar alergias (e marcas, no mínimo, tristes) que esse bicho escrotão ganha o segundo lugar da minha lista!
Ahá!, você estava todo crente que era o mosquito o vencedor do meu toptop bichos escrotos, néé?
Mas agora que já está claro que ele fica com o segundo lugar, que comecem as apostas!
Não? Nenhuma?
Bom, então, não fique chateado, não é nada pessoal, mas para mim, o bicho master escroto é você!
O Bicho-Homem é o grande ganhador desse meu toptop! E nenhum outro é tãão merecedor! Feliz e infelizmente me incluo nesse prêmio e me dou a honra de agradecer por todos.
Um obrigada especial a todos que sempre acreditaram no nosso escroto potencial para destruição, corrupção e todas essas nossas atitudes estúpidas.
Queria também dizer, antes de finalizar, que esta competição não foi justa, já que nós somos animais racionais, então ganhamos vantagem em cima dos outros escrotos por podermos ler, escrever, matar por motivos não-naturais, destruir vários recursos naturais, roubar do mais fraco, magoar quem se ama, se beneficiar em cima do menos "esperto", fazer um rombo na camada de ozônio e usar o polegar-opositor. Mas obrigada mesmo assim, animaizinhos escrotos, sem vocês nós não seríamos nada.

Aliás, eu gosto muito de ornitorrincos e o quarto lugar da minha lista vai para o bicho-papão, que é escroto até dizer chega (seguido de perto pelo pitbull)!

Voe por todo o mar e volte aqui...


O vento é sempre o mesmo, mas nunca é igual. (Ou é sempre igual, mas nunca é o mesmo??)
Sabe aquele ventinho inconveniente que bagunçou seu cabelo ontem? É o mesmo vento que soprou o rumo do Brasil às caravelas e é também o mesmo que viu Napoleão perder a guerra (e as intimidades da Marilyn).
Sim, ele é o mesmo.
Digamos agora, que você seja a reencarnação da princesa Isabel. Você não reconheceria o vento. Para você, o vento que levantou a ponta da Lei Áurea não seria nunca o mesmo que bagunçou o seu cabelo.
Quando ele ventou lá, você segurou o papel mais forte e achou que ele cheirava levemente a suor, os escravos sentiram o gostinho da liberdade entre os dentes na boca sorridente e quase beberam o vento todo em grandes e inebriantes goladas.
Quando ele ventou cá, você juntou irritada e rapidamente as madeixas esvoaçantes e sentiu um quê de maresia nele. O cachorro que levava seu dono sonolento para passear o achou muito refrescante e sentiu um delicioso cheirinho de fêmea no cio. (Sim, é verdade... Tá, vai lá lavar o cabelo, eu espero...)
O ponto é... O vento sempre traz algo novo (mesmo que seja a primeira fumacinha que está com ele desde a Revolução Industrial) e sempre leva algo nosso para lugares onde provavelmente jamais pisaremos (pense nisso: uma lhama pode apreciar seu Channel enquanto degusta seu capim com orvalho), mas ele nunca deixa de ser o bom e velho vento.
Eu quero ser um pouco de vento, talvez seja um dos meus ideais de maturidade, conseguir levar um pouco de você e te dar um pouquinho de mim.

~
Eu sei, você está querendo mandar um recadinho pelo vento, mas é inútil, ele não vai mais reconhecer a sua amada quando topar com ela e todo o seu amor em poucas -e escolhidas palavras ficará vagando ao lado das juras de amor de um hippie ou topará com a pessoa errada (o que, convenhamos, pode ser muito pior).
E cuidado com as palavras que você joga ao vento, eu posso escutar (sem querer, claro).

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Raízes

Não sei no seu livro de matemática, mas no meu tinha, no começo de cada módulo, os Exercícios Resolvidos que a minha professora, muito capaz, repetia no quadro e fazia a gente ler em voz alta.
Não, nós não estávamos na terceira, nem na quarta série, nós estávamos no ensino médio, estudando (ou fingindo) pro vestibular.
O melhor dos citados exercícios não era o fato de que eles vinham resolvidos de maneira fácil apenas para os alunos mais brilhantes, ou o fato de que eram totalmente diferentes dos "Exercícios Propostos" (talvez para que alunos, como eu, não copiassem), ou o fato de ocuparem duas folhas.
Não, isso realmente não me incomodava (tirando o fato de não poder copiar para os exercícios propostos). O que me chamava a atenção era a maneira despreocupada que a expressão "Se, e somente se" frequentemente era usada.
Sim, os autores achavam legal escrever "se, e somente se". Não importava se era para o x que só seria positivo se, e somente se, o y fosse menor-ou-igual a três ou para a parábola que seria aberta se, e somente se, x fosse maior que dois e y fosse diferente de zero.
"Se, e somente se", essa porcaria me perseguia por todos os módulos do maldito livro rosa.
Acho até que a intenção era boa. Eles pensavam que assim estavam facilitando a nossa vida matemática. Mas, carambolas, desde quando o x só poder ser positivo "se, e somente se" o y for negativo facilita a vida de alguém? O x pode ser o que ele quiser, isso aqui é um país livre!!
A culpa d'eu ter desistido da engenharia e depois ter chutado o balde em cálculo e esquecido meus sonhos na Bolsa tem as suas raízes no "se, e somente se" do livro rosa, tenho certeza!
Se, e somente se, o livro não tivesse tantos exercícios resolvidos, tantos exercícios propostos diferentes dos resolvidos e taaantos "se, e somente se", eu poderia agora ser uma brilhante aluna de Economia, ter um grandioso futuro na Bolsa ou no Ministério da Fazenda com direito a cartões corporativos e contas na Suíça, carros importados e mansões em Miami.
Mas como eu tive que conviver com os "se, e somente se" e todos os exercícios assustadores do delicado livro rosa, eu agora estou aqui, batendo cabeça num blog falido e tentando ganhar algum dinheiro-futuro com educação e literatura num "país sem leitores".

Vambora

Vem, vambora!
A gente dá uma passada no Bob's, compra um milkshakecarente e depois vai espairecer caminhando na praia.
"Quem sabe isso passa, sendo eu tão inconstante?"
Vambora, é mesmo exagero (ou vaidade), mas você se comprometeu a ser meu amigo. Anda, vai, eu pago o seu milk shake.
As coisas vão acumulando na nossa vida e vão fechando as saídas, as expectativas caem por água e a gente se desilude.
Você quer de morango-desafiador ou ovomaltine-clichê?
Dois clichês, por favor.
É, eu sinto um pouco de saudade disso também.
Ah, obrigada.
Vem, vambora pra praia.
Não, não vou mentir, nem tudo aquilo que eu falei eu sou capaz.
É, eu sei, talvez eu faça mesmo isso. Passar um tempo longe da cidade é uma boa.
Fale de você, então, eu só fico aqui vomitando esse sentimentalismo barato.
Sempre, tá me ouvindo??, SEMPRE que você chamar meu nome!! Nem vem, eu sou ótima amiga...
Hahahahaha
É, podescrer!
Não, é sempre tão fácil conversar com você... É como um calmante.
Ah não, lá vem você com isso! Não quero falar sobre essas coisas. Já me basta conviver com tudo dele que ficou, não preciso colocar em palavras. Não hoje.
Eu sei que podia ter sido diferente, se eu tivesse feito escolhas diferentes.
Ainda boto fé, sim, de um dia tê-lo de novo ao meu lado.
Eu sei que fui eu quem quis assim...
Pode ser que seja tarde, mas eu não acho que nada tenha acabado.
Do meu lado, nada acabou...
Não, não tô te pressionando, nem nada assim, só tô sendo sincera... Você sabe que pra mim nada acabou.
O que me importa agora?
É, tá bom então...! Acho que não foi bem assim...
Ah, tantas vezes eu já chorei também! Sempre tenho muito mais tristezas pra chorar do que você!
Não, peraí, não quero brigar...
Tá, me desculpa.
Não, é sério, desculpa.
Você sabe que eu me importo com isso, com a nossa amizade, com você.
Desculpa, vai?
Vem da aqui um abraço. Esse tipo de besteira não vai mais sair pela minha boca.
Táá, eu prometo! Vou tentar não pensar assim também!
Sim, vou me esforçar!
Bom, vamos no cinema mais tarde? Tá passando aquele filme com o Gael.
Sim, você perde pra ele.
Hahahaha
Ok, seis e dez então, lá perto da pipoca.
Outro abraço?

CtrlC CtrlV em iaad.blogspot.com

O livro de Jó é, de longe, o melhor livro que li até agora na Bíblia. Eu sei que o que importa de verdade no livro é a demonstração de fé de Jó, mas como eu não me importo muito com o que importa de verdade, fico cismando com a desnecessidade de tudo aquilo. O Diabo, como sempre, é uma figura irresistível. Deve ser o personagem mais interessante que o homem já inventou, talvez depois apenas do velho príncipe Bolkonsky em Guerra e Paz, e com certeza o único com senso de humor na Bíblia. Acho engraçadíssima a seriedade quadradona de Deus e sua pequena dificuldade em entender as piadas do Diabo e tal. Jó, por exemplo, era ultra-fiel a Deus e todo mundo sabia disto. Deus sabia. O Diabo sabia. E o Diabo só fez uma piadinha inofensiva sobre isto, que perto das minhas piadas iria parecer alguém tentando ser engraçado no GNT. Ele diz algo do tipo "Jó é fiel, mas bate nele com uma ovelha pra Você ver". E Deus leva excessivamente a sério, não percebendo o tom irônico do Diabo. É então que manda dar umas porradas no Jó só pra ver qual que é a do coitado. Sem brincadeira, dá vontade de sacudí-Lo gritando "Era uma piada, porra! Uma piada, you bloody freak!"

Depois que matam toda a família do Jó e destroem tudo que ele tem só pra Deus ver qual que é a parada, tudo é devolvido em dobro ao Jó e, ao que parece, geral fica feliz com esta solução - não me ficou claro se Deus duplica os parentes também, mas imagino que nem Ele seria capaz da crueldade suprema de duplicar uma sogra, acho. E, bom, geral fica feliz porque o Diabo ainda não tinha inventado os danos morais. Um bom advogado - outra invenção muito curiosa do Diabo - e Deus perderia todo o universo nessa brincadeira. Precisava mesmo?

De qualquer forma, o livro de Jó rendeu pelo menos a melhor cantada já feita no cinema de toda a história, em Manhattan, de Woody Allen, que ele diz à Mariel Hemingway que ela é a resposta de Deus para Jó:

- You're God's answer to Job. You would have ended all argument between them. He'd have said "I do a lot of terrible things but I can also make one of these." And Job would've said "OK, you win."

(Você é a resposta de Deus para Jó. Você acabaria com toda a discussão entre eles. Ele diria "Eu faço muitas coisas terríveis, mas posso também fazer isto" - e aponta para a garota. E Jó diria "Ok, você ganhou".)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Com Bic vermelha

"Oi"
"Olá"

Risos nervosos
Palavras soltas -doces
Conversas sobre tudo -e nada
Bilhetes
Corações rabiscados -com Bic vermelha
Indiretas
Diretas
Beijos
Abraços -apertaados
Carinhos
Apelidos
Amor
Planos
Conchinha
Presentes
Saudades -desesperadas
Beijos
Ciúmes -com e sem sentido
Brigas
Tempo -ahm?
Saudades
Beijos
Brigas -piores
Palavras -duras
Fotos rasgadas
Mágoas

"Some!"
"Com prazer!"

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Mimitação

Eu acho que Shakespeare era criativo o suficiente para não precisar ser o Romeu para criar Romeu e Julieta, mas nada impede que ele tenha sido, ou visto ou ouvido uma história real de Romeu e Julieta.
Dramático demais, sim. Imagine, morrer de amor. Morrer por amor. Não culpo Shaks nem tampouco a pobre Julieta apaixonada, mas aposto que umas Lisbelas da vida se inspiraram nessa idéia nada inteligente. Até que ponto Shaks imitou a vida e a vida imitou a sua Julieta?
A inspiração da arte se misturou com a mágica da vida. A gente se identifica com as músicas melosas e também com as outras, (quem nunca achou que o Lulu Santos ou o Marcelo Camelo estavam cantando só pra você pode me dar uma cacetada na cabeça) mas eles, em seu momento inspiração-máxima podem ter pensado naquela dorzinha adolescente que ainda incomoda, naquele sobrinho que anda triste ou naquela história que a sua esposa contou ontem.
O ponto é: até que ponto nossos sentimentos criam os personagens e até que ponto os personagens criam nossos sentimentos.
Pensar que muita gente se identifica com "Eduardo e Mônica" deixa a nóia de que, caramba, nós somos ridiculamente parecidos. Existem muitos Eduardos, Mônicas, Romeus, Julietas, Marias, Josés, Capitus e Bias inspiradores (e com histórias tristemente repetitivas) e por isso músicas e romances nos atingem em cheio ou existem muitos Eduardos e Capitus que se atingem porque ouvem muita música e lêem muitos romances?
Nós manipulamos os dramas do romance vivendo nossos dramas ou vivemos nossos dramas baseados nos grandes romances?
Quando paramos de imitar e passamos a ser imitados? Quando paramos de ser imitados e passamos a imitar?
Essa é a pergunta que não quer calar. E eu que não vou tentar calá-la. Eu deixo os Eduardos e as Capitus gritando como loucos e sofrendo como apaixonados por aí. Nem ligo. Nós seremos sempre Julietas perdidas e vocês Bentinhos confusos. É a vida. É a arte.
É a arte da vida?