sábado, 21 de junho de 2008

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Quanto tempo é suficiente?
O tempo sempre fascinou com aquele fascínio que amedronta.
"O tempo passa rápido demais!" dizem os que querem trabalhar mais, se divertir mais, amar mais.
"O tempo demora muito a passar!" dizem os que estão cansados do trabalho, da aula, da solidão.
O tempo amedronta na hora do adeus e fascina na hora de um novo 'olá', mostrando que, vai, uma semana (ou quem sabe dois anos) não é tanto tempo assim.
Dois anos não é tanto tempo assim?
Dois anos é tempo pra caramba pra ficar longe de quem se ama.
Dois anos não é taanto tempo assim pra se conhecer alguém.
Dois anos é quase nada para quem faz faculdade de medicina.
Dois anos é tempo que passa rápido demais. Mal as promessas de ano novo são feitas pulando sete ondinhas e já estamos nós de novo no Natal.
E uma semana?
Muitos diriam que dois anos é 'um tempão' e uma semana não é nada.
Não? Experimenta começar a namorar e esperar uma looonga semana pra estar junto. Experimenta estar a uma semana do seu casamento. Experimenta estar a uma semana do seu filho nascer. Experimenta estar a uma semana das férias.
Agora experimenta estar a uma semana da volta às aulas. Experimenta estar a uma semana daquela prova importante. Experimenta estar na sua semana rotineira e me diz se quando você vê já não é sexta de novo e você está sentado com os amigos tomando uma cerveja e falando sobre futebol. Ou homens. Ou os dois.
E então? Uma semana é muito ou pouco tempo?
Essa é uma daquelas resposta em que a metade de lá diz á e a metade de cá diz bê.
Mas no que os ás e os bês concordam é que não se pode parar esse senhor. Tentamos escrever nossas experiências, tentamos capturar e segurar o momento em uma foto, tentamos dizer e fazer tudo que achamos que devemos dizer e fazer, mas nunca é o suficiente. Sempre se volta da viagem sentindo falta dessa ou daquela foto. Não escrevemos tanto assim, afinal, e o momento passou e essa ou aquela personagem ficou sem aquele traço e essa ou aquela história ficou sem aquela vírgula que, sabemos, mudaria tudo. Ou não?
Dizer e fazer ou não dizer e não fazer, são outras artimanhas do tempo. Ele nos dá todo seu tempo, esse senhor. E, no fim, não foi quase tempo nenhum. A gente volta pra casa e pensa que poderia ter feito diferente. E se? E se eu tivesse dito sim? Ou tivesse dito não? Ou, por Deus, e se eu tivesse dito QUALQUER coisa?
É, você poderia ter feito diferente, mas amigo, não fique remoendo isso! Não culpe os seus atos e nem culpe o tempo curto demais, porque se você acha que o senhor tempo é o velhinho mais tinhoso, está enganado! O senhor destino pode ser bem pior.
E eles trabalham juntos. É uma parceria de longa data.
O tempo encurta e alonga para que os planos do destino aconteçam.
Então, meu caro, se você não disse, não disse e pronto. Paciência. Se você disse, está dito. E mais paciência ainda!
O que tem que acontecer, vai acontecer!
Diga que ama, diga o que te incomoda, dê socos em quem merece e abraços em quem retribui. Diga que ama quantas vezes te vier na cabeça (e ainda serão poucas) e ame. E não odeie. E ame. E dance na chuva e empurre seus amigos na piscina. E ria. Muito, com todos. E ame. E dê presentes. E dê muito mais sorrisos. E coma doces. E ame. E saia. E se divirta horrores. E compre presentes pra você. E se dê um tempinho. E ame. E se ame!
Sim, é clichê, mas você já sabe que eu gosto disso.

E por que eu gastei um bom tempo desse dia lindo de sol pra escrever isso?
Porque eu quero aproveitar todo o tempo que puder pra dizer o que eu acho que tenha que ser dito e fazer o que eu acho que tenha que ser feito. E, vai, nem foi taanto tempo assim!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Como escrever sua própira novela mexicana (qualquer coincidência é mera semelhança!)

Queria deixar claro que essa idéia surgiu em uma madrugada de insônia bem antes d'eu pôr os olhos em "Garotas Que Dizem Ni" (embora agora faça algumas referências às idéias delas) e é uma homenagem a minha querida amiga Conchita.


Antes de mais nada, sua novela tem que ser romântica, trágica e escancaradamente cômica! Nenhum capítulo pode ir ao ar sem conter uns gritos e uns maravilhosos tapas na cara! E a trama tem que, invariavelmente, contar com: uma mocinha muito boa (aquele tipo de gente que não existe); um mocinho-galã de nome duplo que não combina e expressões forçadas; uma vilã que se acha apaixonada pelo mocinho-galã ou quer, pura e simplesmente, se casar com ele; mais um punhado de pequenos vilões e umas duas pessoas que ajudem a mocinha; empregados fofoqueiros e intrometidos; crianças que vão sofrer atentados dos vilões e algum velho doente.

O nome
Você tem que escolher um nome completamente fora de qualquer contexto lógico e grande apelo dramático, como: "Café com aroma de mulher" ou "Direito de nascer". Também pode conter o nome da mocinha ou alguma dificuldade que ela vai passar. (Se você estiver escrevendo como Conchita e eu, seu título deve ser cômico)

A mocinha
Normalmente se chama Maria, mas também recebe nomes de cunho religioso. E sempre, sempre, nome duplo. Se ela tiver uma irmã gêmea, abre-se mão de Maria para usar nomes parecidos (a irmã gêmea sempre se une a vilã, quando não é ela mesma).
A mocinha tem que reunir em si muitas coisas não-apreciadas pelo mocinho-galã até que eles se conhecem em alguma situação clichê como atropelamento, roubo ou esbarrão na esquina e se apaixonam. Ela sempre sofre muito, de acordo com a vontade do nobre autor.

O mocinho-galã
Recebe o nome mais glamouroso da telenovela. Normalmente é algo como Carlos Daniel, Fernando Afonso ou Rogério Henrique. E claro, tem um imponente sobrenome. É muito rico e charmoso, tendo a mulher que quiser. Tem uma ex-namorada ou ex-noiva, que termina quando conhece e se apaixona pela mocinha, que se torna a vilã vingativa.
O mocinho-galã sempre tem amigos que não gostam da mocinha, por ser diferente deles, e recebem nomes que façam o público rir.

A vilã
Sempre uma riquinha-mal-amada-e-solitária que usa o dinheiro para comprar suas amizades e a beleza para trazer os amigos do mocinho-galã pro lado dela e prejudicar a mocinha (sim, a vilã sempre é bonita, rica e sensual, mas não queira o seu papel, pois ela ou morre ou é internada num manicômio enquanto a mocinha bebe uma taça de vinho na cama com o mocinho-galã).
A vilã tem sempre um nome bonito e carrega, assim como o mocinho-galã e seus amigos preconceituosos, um poderoso sobrenome (a menos que seja a gêmea da mocinha).

Os "vilões"
Aspas porque eles não são vilões como a vilã-mal-amada-e-solitária, são apenas pessoas invejosas que, ao mesmo tempo que se sentem atraídos pela adorável mocinha, querem mantê-la longe e, de quebra, prejudicá-la com o mocinho-galã. Aqui estão os amigos-bolhas do mocinho-galã, a irmã gêmea (se não for adepta das maldades pesadas) e os empregados-abusados da família do mocinho-galã.
Os "vilões" sempre recebem apelidos ou nomes simpáticos, como Pepito, e acabam adorando a mocinha no final e ajudando o mocinho-galã a perceber que eles são feitos um para o outro.

A mãe do mocinho-galã
Tende a ficar um pouco insegura ao ver o filho tão apaixonado, mas assim que conhece a mocinha encontra uma ótima pessoa, a norinha que pediu a Deus e passa a ser sua principal aliada contra as forças do mal (haha não resisti).
Ela sempre recebe um nome carinhoso, como Conchita, mas pode, junto com a mocinha, ser muito perigosa.

A família
Do mocinho-galã, claro, uma vez que a mocinha conta apenas com uma irmã, um pai ou uma avó doente (a mocinha nunca tem a mãe para apoiá-la, logo sofre mais).
A família do mocinho-galã não aprova a sua escolha e tende a ficar do lado dos amigos antigos e conhecidos do mocinho-galã, mas aos poucos (ou ao estilo "amor a primeira vista") vai também se apaixonando pelo inegável carisma da mocinha.

Os empregados da família
Sempre são intrometidos e contam tudo que acontece à mãe do mocinho-galã. Alguns se corrompem e ajudam o núcleo da vilania, mas na sua maioria são pessoas boas e a mocinha sempre conta com a ajuda incondicional de uma cozinheira gorda ou um antigo jardineiro da casa.

As crianças
São os filhos do casal e aparecem na parte da telenovela em que finalmente eles percebem que devem ficar juntos (um pouco antes da vilã ter um fim trágico e os amigos aceitarem a mocinha ou sumirem da trama).
Sempre recebem o nome dos pais e também são chamados por apelidos.
Podem também ser irmãos do mocinho-galã, nesse caso são grandes aliados da mocinha desde o início, mas como crianças, vez ou outra caem na lábia dos vilões.

O velho doente
É sempre ligado à mocinha, para ser mais um motivo de sofrimento para a mesma. Pode ser o pai, a avó ou aquele jardineiro antes mencionado. Embora passe o tempo todo muito doente, assiste o casamento da mocinha com o mocinho-galã e não morre, já que aqui o final é sempre feliz.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O que todo pretenso, jovem e inteligente escritor deve saber sobre clichês e abiu

O papai diz que clichê é uma "frase ou idéia banalizada por repetição excessiva" e também "lugar-comum". Logo, se é lugar-comum, vamos acabar sempre nele.
A regra mais importante ao lidar com clichês é: Não fuja deles. Não adianta nem tentar, você pode corrar, mas não pode se esconder. Sim, eles vão te encontrar até mesmo lá.
A segunda regra mais importante ao lidar com clichês é: não caia no erro de achá-los banais (banal: sem originalidade; vulgar, corriqueiro).
Sim, clichês não são originais, mas o que é original? Que atire a primeira pedra quem tiver em mãos algo super inovador, nunca escrito antes de você colocar pra fora. E que me atire um avião quem não utiliza "frases feitas" ou bordões ou qualquer outra coisa que seja da família dos clichês.
Falamos clichês, vemos clichês em filmes (aliás, as fórmulas de filmes já são clichês quase em forma puríssima), lemos clichês em crônicas atuais e contos de anos atrás.
Será que somos todos clichês? ...
Não resisti, mas já parei.
Já que temos que conviver com clichês e usá-los, façamos direito. Goste dos seus clichês, trate-os bem, mude-os como queira e misture-os à vontade. Coisas ótimas vão aparecer (ou o bolo pode solar).

Ah, claro! Esqueci do abiu.
Abiu é um fruto que tem forma e tamanho de um ovo de galinha comum e tem a superfície lisa, amarela e brilhante. Sua polpa é esbranquiçada e muito doce, excelente contra infecções pulmonares ou pessoas desnutridas.
E eu nunca vi, nem comi, só ouvi falar.