quinta-feira, 28 de março de 2013

Placebo

Há pouco mais de um mês, quando pensei em escrever sobre religião, pensei em como ela tem um poder e um alcance enormes e em como se parece com o placebo.
O placebo é um medicamento ou procedimento que só tem efeito por conta do paciente, se ele acredita ou não.
E, para mim, a religião, qualquer que seja, nada mais é que um apoio para as aflições da vida. É uma luz no fim do túnel, é uma loteria em que se arrisca que algo maior vai resolver o que você não está conseguindo sozinho.
Ouvi falar que o berço da religião foram as colheitas, ou melhor, a perda delas. Vamos rezar para que ano que vem seja melhor. E aí vieram os sacrifícios; que tal essa cabra em troca da proteção da colheita?
Há muito o sacrifício foi substituído por devoção, mas a crença continua firme.
De fato ainda me parece muito com o efeito que vejo em multidões que sobrevivem das religiões (e as grandes religiões só sobrevivem das multidões, o que clarifica a minha ideia de invenção, necessidade, placebo). O que muda não é a minha visão, o que muda é a minha experiência.
Quando adolescente, na escola, achava que rezava para passar de ano, mas nunca tive que rezar como rezei há um mês.
Me vi de uma hora pra outra em uma situação aterradora, me senti perdida e meio louca. Esqueci o sentido da vida e rezei pela vida que era arrancada da minha convivência. Rezei acreditando, porque precisava de uma força que eu não tinha. Rezei suplicando que a minha querida avó fosse bem recebida aonde quer que fosse e rezei para que eu conseguisse ter forças para seguir em frente.
Sempre achei o efeito placebo sensacional e sou fã das comprovações científicas baseadas no estudo dele,  mas nunca entendi em como ele funcionava religiosamente. Agora eu entendo, da maneira mais dolorosa possível, que é a saída da mente para acalmar o coração. Eu usei no desespero, mas se encaixa em cada pedido de cada pessoa. E o melhor é que é de graça e tem a cor e o gosto que você quiser...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sun, sun, sun...

Sou contraditória, sou intensa. Tenho multidões dentro de mim... Modificações do grande Fábio a parte (sim, eu curto Fábio Jr. #galã), o que eu ia dizendo é que tenho uma relação muito crazy com o astro rei. Eu não posso ficar muito tempo debaixo dele, senão torro, mas adoro sentar e curtir uns minutinhos. Acho que ele traz alegria, traz renovação de espírito! Quando eu estou em contato com ele eu cheiro, eu abraço, eu me aconchego, eu o respiro, eu me entrego! Mas eu reclamo, eu admito, eu reclamo muito quando eu sinto um calor absurdo, quando eu me sinto queimada, quando eu vejo minha pele vermelha! E eu o amo.
E isso tudo apenas pra dizer que chori e sorri, emoções eu vivi, no ônibus a caminho do trabalho.
Parecia que o George tinha escrito "Here comes the sun" especialmente para mim, especialmente para aquele momento... Here comes the sun lalalalá Little darling... the smiles returning to the faces...
E eu entendi.
Entendi que me perdi no cinza do trabalho. Não sabia mais escrever, sentia um vazio imenso que só era preenchido com a gastrite. E pequenas coisas foram acontecendo.... Little darling...I feel that ice is slowly melting...
O sol abriu no meio do cinza e eu sorri. Tudo parece mais real. Não é o fim, mas é um começo...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Love songs

O mundo e os relacionamentos seriam mais fáceis se a gente pudesse pedir socorro a uma love song, cantar e resolver os problemas. Seria bacana incorporar a Celine Dion e sentir que tudo vai dar certo! Mas é difícil dar certo. Assim como é difícil o telefone tocar... É!, nunca reparou que quando estamos esperando o telefone nunca toca?! Esse dilema, além de universal, me parece também atemporal. Imagino a minha avó sentada na namoradeira ao lado daquele aparelho telefônico antigo (sabia que Nelphone era o nome dele?) esperando meu avô ligar no sábado pela manhã para marcar um passeio após o almoço. Imagino antes disso aquela que quase ficou "pratitia" aguardando, jogada na poltrona, olhando o jardim pela janela, tendo no campo de visão aquele telefone preso na parede (tipo italiano, ao que parece). E ainda consigo imaginar a mocinha com o romance aberto no colo imaginando naquelas linhas uma carta de amor que nunca chega (ok, mudei o meio de comunicação, mas a ideia é a mesma!). Mas hoje em dia existem conselhos demais. Muitas linhas de pensamentos e muitas contradições... A gente fica sem saber, começando pelo telefone, se realmente espera ele ligar, se liga logo ou se manda uma mensagem no celular ou na internet. Algumas amigas vão te dizer uma coisa, algumas terapeutas discordarão e explicarão o porquê e ainda algumas manicures serão de opinião diferente. Já namorando, a gente nunca sabe se adere ao clube do chiclete ou ao clube do desapego. Não se sabe se liga, se marca em cima, se manda mensagem melosa ou se passa dias sem dar nem sinal; se vai atrás dele aonde ele for ou se o libera para sair praonde quiser e se libera também. Parece que se grudar demais o cara cansa e se grudar de menos o cara some. Parece é que se ficar o bicho pega e se correr o bicho come! Qual é o meio termo? Qual é a medida ideal? Eu não sei e aposto que a Dercy também morreu sem saber! O ideal não é questão de experiência é questão de feeling, assim como a quantidade de sal e o ponto do bolo. A gente vai errando e acertando até que se chega num lugar comum que seja agradável aos dois. Um lugar comum em que tudo que seja como uma love song. E tem vezes que nem mesmo a love song entra no jogo #cantando #nottodaybaby I'm not gonna write you a love song 'Cause you ask for it 'Cause you need one You see, I'm not gonna write you a love song 'Cause you tell me it's make or break in this If you're on your way I'm not gonna write you to stay If all you have is leavin' I'm gonna need a better reason To write you a love song Today

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Carnavalesco

Cadê o bloco do Eu sozinho? Esse ano ele não sai. O único integrante esqueceu-se.
Esse integrante não está carnavalesco porque não sabe como ser. Esse integrante não estava natalino porque não sabe como ser e também não estará junino porque não sabe mais como ser. Não sabe mais como ser ele mesmo.
Quem é ele? Do que ele gosta? Quanto ele veste? Quanto ele tem na conta? Qual o último filme que viu no cinema? E o livro da cabeceira, cadê?
Ele sorri, mas o sorriso não é da alma, os olhos não traduzem mais lá muita coisa, ele não ri de si mesmo.
O cara que costumava se amar e ser feliz com as menores coisas está entre a autopiedade e o autodesprezo. Quando não está morrendo de pena de si mesmo, ele chega a sentir repulsa dessa criatura sem graça.
Ele não escreve mais sobre as milhares de coisas que vê, ouve, pensa. Será que ele ainda pensa? Sei que pensa que a sua mente parou de brilhar e que se alguem procurar, não vai mais achar na escuridão da noite. Ele já não se considera um destaque na multidão, se vê agora como mais um medíocre que se entregou à vida. Predeu a batalha com o cotidiano, forte combatente.
Toda a genialidade deu lugar a toda a angústia que o enlouquece.
Acho que ele já deu tudo o que tinha para dar. Já chegou no fundo do poço particular de emoções torpes.
Ele me disse uma vez que era a ovelha negra, mas acho que está na hora dele ser o pássaro negro.
Então, meu querido blackbird, take these broken wings and learn to fly.
Se cuida, te vejo na próxima sessão de análise.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Cara, cadê meu senso crítico?

Acabei de ler um capítulo ótimo sobre como o senso crítico literário das crianças é retalhado no colégio e isso me traz lembranças desagradáveis e me joga na cara o quanto eu sou sortuda por ter descoberto sozinha minha leitura.
O texto fala sobre quando um professor passa um livro para a turma ler. Primeiro erro; porque aquele livro? É um livro mágico capaz de agradar e ser verdadeiro para todas as vinte crianças? Impossível. Mas vai lá, é o livro mais divulgado, é a editora que facilitou pra escola... Assim esse professor passa para os novos leitores algo que ele nunca leu, algo às vezes ruim ou fora da realidade daquelas crianças.
Então, as vinte criancinhas esperançosas pegam o livro ditador e acham a capa horrível. Mas ninguém pergunta isso a elas. Nossa, quantas vezes eu achei as capas horrendas e nunca me deixaram colocar isso pra fora.... ODIEI AS CAPAS DOS LIVROS MEQUETREFES QUE TIVE QUE LER NO ENSINO FUNDAMENTAL!!!!! ufa...
Então, as vinte criancinhas desestimuladas pela capa do livro, começam a ler o mesmo. E acham que não tem nada a ver. E começam a contar sujeirinhas no teto. E coçam o umbigo. E acham que a personagem principal é um alien. Mas de novo, ninguém pergunta isso a elas, então elas tem que ler tudinho quase como remédio para fazer a prova no dia tal. EU ODIEI ALGUNS LIVROS ESTÚPIDOS QUE TIVE QUE LER! PORQUE NÃO ME MANDARAM FAZER PROVA DE AGATHA CHRISTIE??
Então, as vinte criancinhas chegam para fazer a prova com vontade de vomitar e tem que responder a perguntas como a cor do cavalo branco de Napoleão. Não, mentira, tem que responder porque fulana resolveu que era hora de jogar a bola rasgada no lixo ou porque eles não voltaram pela mesma passagem mágica assim que viram o primeiro dinossauro. Alooooooou! Um livro tem um milhão de perguntas mais interessantes. Ou melhor, as perguntas não precisam ser feitas. O livro vai falar com as crianças e elas vão querer falar sobre ele!!
A pior pergunta que eu já vi, feita por uma professora estúpida que eu tive no ENSINO MÉDIO, veja bem, já éramos crescidinhos, foi a seguinte: "Capitu traiu ou não traiu Bentinho?". Essa pergunta era uma pergunta EXTRA. Valia um ponto ALÉM dos dez pontos da prova. Que beleza, né? Me animei, escrevi que nem uma nova Clarice Lispector sobre como o livro era injusto com a pobre da Capitu e.... não ganhei a questão!!! Porque, meodeos? Porque, professora diaba????? Porque a resposta CERTA era que não se podia saber, pois Machado deixou essa questão no ar, sem dar detalhes suficientes. OI? Eu acho o que eu quiser!! Tenho certeza que Machadinho não ia se importar deu achar que a Capitu era uma vítima do ciúme doentio do marido possessivo dela!!!! OI²? Quem disse que prova de interpretação de texto tem certo e errado???? A interpretação é sua, a verdade é sua, então está certo!!! E eu fui reclamar com ela, levei meus argumentos. Ela riu. E a partir desse dia eu não dirigi mais a palavra e ela. Ah, e ela foi demitida. Não por minha causa, infelizmente.
Galere, pais, professores, primos, tios, madrinhas, avós, vamos dar de presente para as nossas crianças um livro que a gente já curtiu, um livro que a gente pode discutir. E vamos deixar essa criança ler na velocidade dela. Vamos deixá-la absorver e amar ou odiar. E aí vamos debater sobre. E aceitar a verdade dela, porque esse momento define se essa criança vai amar ou odiar um autor. Se ela vai ler mais livros dele ou mandá-lo para o fundo do armário. Se ela vai querer ler outras milhares de coisas ou se vai preferir jogar video-game. Deixa ela discordar, deixa ela odiar o livro que você ama. Isso faz parte da aventura de ler.
E, cá entre nós, não queremos criaturas bitoladas por aí. Queremos criaturas críticas e interessantes. Interessantes como os melhores livros.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Juventude

Eu, particularmente, sou uma criatura idosa em vários sentidos (embora esteja nos vinte e poucos), mas hoje percebi o que é a juventude duradoura.
Conheci (ok, ouvi e bisbilhotei a conversa dela no celular no ônibus, com uma amiga) a Mercedes.
Mercedes é uma jovem senhora na carteira de identidade, mas uma menina no espírito!
Mercedes veio do friozinho do sul para o calorão aqui do sudeste há pouco mais de um ano, mas já se sente em casa!
Ela me contou cofcof que estava em um novo emprego aqui no Rio, um emprego dentro da sua área. Está muito animada, porque aqui no Rio só tinha conseguido emprego em loja e isso ninguém quer nem na idade do RG nem na da cabeça.
Ficou muito feliz por ter conseguido antes mesmo de acabar o aviso na loja e ficou feliz porque a gerente adorou a sua postura, além do seu curriculo. Como não ia adorar, Mercedes? Vocês do sul são realmente muito finos e aristocráticos!
O novo emprego é um pequeno hotel no Leblon e Mercedes está transbordando de animação porque finalmente vai pegar o ritmo de trabalho e aprender milhares de coisas novas. Além disso, ela sai cedo e ainda vai conseguir pegar uma praia!
Mercedes disse que esse emprego é só o primeiro degrauzinho da nova carreira no Rio, pois o salário não é dos melhores e ela tem um filho levado para terminar de criar! Mas vai agarrar com unhas e dentes e se dedicar, como sempre faz, para aproveitar a bela oportunidade!
Aliás, ela só estará de ônibus até mês que vem, quando vai comprar uma nova bicicleta para ir trabalhar do jeito que ela gosta! Mas essa bicicleta o filho não pega, já quebrou duas caindo e dando um belo susto na mamãe amorosa!
Boa sorte, Mercedes (ou seja qual for o seu nome)!
E obrigada pela lição de vida.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria!

Dou minha alma, rio, choro, durmo no ônibus. Vivo a minha vida louca, não preciso ir pra califórnia pra ser artista de cinema.
Sou artista aqui. Atriz e diretora da minha vida.
NÃO, eu não vou ser piegas. Relaxa! O atriz e diretora aqui estão mais para "aumento mas não invento!".
Calma, vou explicar.
Todos os escritores decentes do planeta dizem que escrevem para colocar pra fora, mesmo. Porque precisam, não compartilhar, não de fãs nem admiradores, mas de paz interior. E euzinha, que soy muy decentita, também sempre digo que escrevo pra me livrar de tudo que está sufocando aqui na cabeça.
Entãão, se escrever uma história é romancear a vida, é exatamente isso que eu faço todos os dias.
Você me conta uma coisa, eu guardo pra mim a cena repintada em palavras que se encaixam perfeitamente e expressões dignas de Jack Nicholson. Vivo reparando em telefonemas e suspiros alheios pela rua para imaginar grandes tramas dantescas, só pra mim. Taí porque prefiro andar de ônibus do que de metrô.... Muuuuito mais potencial!
Nem começa a falar que é pra fugir, que a minha vida é desinteressante, que eu não olho pro meu rabo, blá blá blá.
Primeiro, eu sempre verifico o rabo pelo espelho antes de sair; segundo, a minha vida é interessantíssima! Eu me divirto, eu altero passagens, eu penso antes de falar para tentar não alterar tanto... Eu ensino as pessoas a não andarem com os pés no chão e estou sempre por um triz!
Eu não sei qual o nome dessa doença, mas quero morrer com ela... Quero morrer com a fantasia, com a imaginação, com o encantamento, com o romance!
Que fechem as cortinas e acendam as luzes quando eu terminar, mas fico com as palmas silenciosas contidas nos sorrisos!

Qualquer dia escrevo a minha história e a de todas as pessoas e fico rica com isso!