segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Carta Lee

Querida Rita,
Como vai você? Assim como eu, uma pessoa comum, uma ovelha negra.
Ouvindo você dizer que não quer luxo nem lixo, estive pensando...
Eu quero luxo sim! Quero o luxo em diversas horas da minha doce vida, na minha canoa furada.
Quero andar de carro com ar-condicionado ligado no calor infernal do Rio de Janeiro, quero me encher de sacola no shopping, quero sentar calmamente numa terça a tarde e me deliciar fazendo unhas e cabelos no salão. Quero andar de salto, quero ser estrela de cinema. Afinal, I'm a Rolling Stone.
Mas também quero o lixo! Quero o pé descalço no chão, quero o frangão da padaria. Quero todo mundo num carro de janelas abertas; suando e rindo. Quero tirar fotos em lugares públicos e rir alto no cinema.
Quero tudo da vida. De um extremo ao outro, passando muito pelo meio.
E sobre o papo de ser imortal, minha cara Rita, você vai me desculpar, mas eu discordo totalmente.
Que Deus me abençoe e me leve assim que eu passar a última vez o dedo na cobertura do bolo. Não quero ser imortal nem na lembrança!
Acredito que aqui você discorde comigo pois você será, como os grandes. Você estará sempre na playlist de alguém e então, aí, estará a sua imortalidade.
Mas não eu. Essa morte não é pra mim. Quero uma morte tranquila. Quero que as pessoas me amem e depois vivam como se eu fosse apenas um sorriso.
Acho que é esse meu plano de vida e morte.
Ah, já ia me esquecendo do ponto em que eu concordo com você plenamente, em gênero, número, grau, planeta, galáxia! O ponto crucial da vida, a cereja do sundae.
O que eu quero mesmo é saúde pra gozar no final! [Sempre]
Beijos e vibe positiva,
Bia.

sábado, 29 de janeiro de 2011

intraduzível


Saudade. Não se deixa de traduzir 'saudade' para outros idiomas por falta de vontade, não. Não se traduz porque é realmente um trabalho hercúleo, ou melhor, divino.
Por isso nem sei se esse bichinho mexendo dentro do meu peito é saudade. Se for, é saudade de Araras, saudade da coruja da árvore da praia. Saudade das viagens a Paris, dos beijos de cinema na carruagem.
Saudade de ir correndo atrasada pro colégio e da emoção da primeira tatuagem.
Se for saudade é saudade dos bailes no castelo e do sol na beira da piscina. Saudade do monte de roupas de Barbie e do cheiro de calor do amante latino.
Se for saudade mesmo é saudade de cantar na beira do palco dos Beatles e correr pelos montes até os Ventos Uivantes.
Se for saudade é saudade de tudo que vivi, pessoalmente ou não.
Se for saudade, que fique por aqui me fazendo companhia quando ninguém mais fizer.