sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Cara, cadê meu senso crítico?

Acabei de ler um capítulo ótimo sobre como o senso crítico literário das crianças é retalhado no colégio e isso me traz lembranças desagradáveis e me joga na cara o quanto eu sou sortuda por ter descoberto sozinha minha leitura.
O texto fala sobre quando um professor passa um livro para a turma ler. Primeiro erro; porque aquele livro? É um livro mágico capaz de agradar e ser verdadeiro para todas as vinte crianças? Impossível. Mas vai lá, é o livro mais divulgado, é a editora que facilitou pra escola... Assim esse professor passa para os novos leitores algo que ele nunca leu, algo às vezes ruim ou fora da realidade daquelas crianças.
Então, as vinte criancinhas esperançosas pegam o livro ditador e acham a capa horrível. Mas ninguém pergunta isso a elas. Nossa, quantas vezes eu achei as capas horrendas e nunca me deixaram colocar isso pra fora.... ODIEI AS CAPAS DOS LIVROS MEQUETREFES QUE TIVE QUE LER NO ENSINO FUNDAMENTAL!!!!! ufa...
Então, as vinte criancinhas desestimuladas pela capa do livro, começam a ler o mesmo. E acham que não tem nada a ver. E começam a contar sujeirinhas no teto. E coçam o umbigo. E acham que a personagem principal é um alien. Mas de novo, ninguém pergunta isso a elas, então elas tem que ler tudinho quase como remédio para fazer a prova no dia tal. EU ODIEI ALGUNS LIVROS ESTÚPIDOS QUE TIVE QUE LER! PORQUE NÃO ME MANDARAM FAZER PROVA DE AGATHA CHRISTIE??
Então, as vinte criancinhas chegam para fazer a prova com vontade de vomitar e tem que responder a perguntas como a cor do cavalo branco de Napoleão. Não, mentira, tem que responder porque fulana resolveu que era hora de jogar a bola rasgada no lixo ou porque eles não voltaram pela mesma passagem mágica assim que viram o primeiro dinossauro. Alooooooou! Um livro tem um milhão de perguntas mais interessantes. Ou melhor, as perguntas não precisam ser feitas. O livro vai falar com as crianças e elas vão querer falar sobre ele!!
A pior pergunta que eu já vi, feita por uma professora estúpida que eu tive no ENSINO MÉDIO, veja bem, já éramos crescidinhos, foi a seguinte: "Capitu traiu ou não traiu Bentinho?". Essa pergunta era uma pergunta EXTRA. Valia um ponto ALÉM dos dez pontos da prova. Que beleza, né? Me animei, escrevi que nem uma nova Clarice Lispector sobre como o livro era injusto com a pobre da Capitu e.... não ganhei a questão!!! Porque, meodeos? Porque, professora diaba????? Porque a resposta CERTA era que não se podia saber, pois Machado deixou essa questão no ar, sem dar detalhes suficientes. OI? Eu acho o que eu quiser!! Tenho certeza que Machadinho não ia se importar deu achar que a Capitu era uma vítima do ciúme doentio do marido possessivo dela!!!! OI²? Quem disse que prova de interpretação de texto tem certo e errado???? A interpretação é sua, a verdade é sua, então está certo!!! E eu fui reclamar com ela, levei meus argumentos. Ela riu. E a partir desse dia eu não dirigi mais a palavra e ela. Ah, e ela foi demitida. Não por minha causa, infelizmente.
Galere, pais, professores, primos, tios, madrinhas, avós, vamos dar de presente para as nossas crianças um livro que a gente já curtiu, um livro que a gente pode discutir. E vamos deixar essa criança ler na velocidade dela. Vamos deixá-la absorver e amar ou odiar. E aí vamos debater sobre. E aceitar a verdade dela, porque esse momento define se essa criança vai amar ou odiar um autor. Se ela vai ler mais livros dele ou mandá-lo para o fundo do armário. Se ela vai querer ler outras milhares de coisas ou se vai preferir jogar video-game. Deixa ela discordar, deixa ela odiar o livro que você ama. Isso faz parte da aventura de ler.
E, cá entre nós, não queremos criaturas bitoladas por aí. Queremos criaturas críticas e interessantes. Interessantes como os melhores livros.

Um comentário:

Valdeir Almeida disse...

Bia,

Obrigado pelo comentário no meu blog.

Desejo-lhe um Feliz 2012.

Abraços.