quinta-feira, 29 de maio de 2008

A grama do vizinho é sempre mais verde??

Ele saiu como se não tivesse entrado. Se não fosse uma pequena variação de humor percebida apenas por poucos mais íntimos, todos diriam que ele não chegou a entrar. Mas entrou e ficou lá dentro um tempo que talvez não tenha sido suficiente ou suficientemente bom para fazê-lo ficar ou ao menos sair um pouco mais penosamente. Saiu e resolveu esquecer que tinha entrado. Era melhor assim. Ele não era um cara que aceitasse sofrer e ainda mais por ela.
Ela? Ela ficou lá. Não teve coragem de sair. Já tinha esquecido como era o mundo lá fora. Se sentia fraca, desprotegida e muito despreparada. Ficou. Mas era triste demais, solitário demais, estar sozinha num lugar para dois é duplamente mais complicado do que dividir uma cama para um com um outro. Várias pessoas que gostavam dela tentaram ajudar pela janela, não podiam entrar num lugar que tinha o tamanho de outra pessoa. Feito na medida certa (para a pessoa errada?) e agora sobrava um espação. Ou faltava? É, faltava alguma coisa. Ela rondou e rondou a porta depois de quase súplicas dos prezados amigos. Resolveu sair. Meses (ou teriam sido apenas minutos?) depois a porta se abriu de novo. Não foi como da primeira vez, de uma maneira quase fugitiva e secreta, foi com um receio de não conseguir e várias mãos esperando. E então ela também saiu. Sentiu o calor do sol de novo no seu rosto e o vento que levantava a saia fresquinha de verão. Sentiu todo o calor humano que esperava por ela de queridos amigos e de queridos desconhecidos que ia conhecer por aí. Saiu levando com ela nenhum móvel, mas todo o amor que houver nessa vida que eles juntaram lá dentro, do qual ele não levou, infelizmente, nada.
Olhou pra trás, para a casa tão bem cuidade durante tanto tempo, para a casa que se pudesse falar contaria coisas lindas e tristes, para a casa que ela estava deixando de vez para trás.
Ele, que já estava em outra casa nas redondezas, assistiu assustado, de uma janela apertada, a sua saída, que estava pegando-o totalmente desprevinido, pois esperava vê-la sempre abrindo as janelas, arrumando a casa que já não mais frequentava, cuidando sozinha de um amor que deveria estar esperando, quietinho, pela sua volta.
Ela sabia que ele estava olhando e que olharia por mais algum tempo das janelas (aliás, incomparáveis com as dela) da outra casa, mas não se importou. Nem com ele, nem com a casa.
Olhou mais uma vez para sua antiga casa, suspirou, fechou os olhos e respirou bem fundo para guardar tudo que era bom, soltando depois, entre risadas, tudo de ruim que ela não queria levar.
Abriu os olhos e sorriu. Sorriu para a alegre nova vida que a esperava e para as novas casas que viriam por aí e para aquela casa, que ela não conhecia ainda, mas sabia que na hora certa iria entrar pela porta principal para não mais sair.

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