domingo, 14 de setembro de 2008

Só pro meu prazer!

A satisfação de ver as cartas queimarem na lareira vai embora quando chegam os primeiros raios de melancólica embriaguez, na segunda taça daquele vinho que não foi aberto no último dia 12.
Com um pouco de dificuldade no manuseio do atiçador e uns dedos queimados numa ansiosa tentativa de resgate, conseguiu salvar uns pedaços das cartas e algumas paisagens das fotos rasgadas em tantas partes.
Se sentiu queimando junto com o papel, sofrendo junto com as distorções nas fotos. Não queria queimar as lembranças, muito menos o amor. Queria deixar tudo ali, pra sempre. Não sabia que essa escolha não existe. Algumas coisas se vão para outras poderem ficar.
Se colocou então na adorável tarefa de reconstruir aquele amor, pra guardar na memória como achasse melhor. Sem os defeitos, sem as brigas, quase sem a realidade e com toda a realidade possível. A realidade escolhida das ficções.
O seu maior amor deixou de ser algo vivido, nada palpável, pra se tornar a sua maior ficção de amor, totalmente palpável. E reconfortante, principalmente naquelas noites.
Nenhuma palavra dita depois disso, nenhuma cena armada, nenhuma foto de nenhum outro momento feliz. E toda uma vida realizada em delírios apaixonados e desesperados.
Apenas o prazer das delícias insinuadas nas suas fantasias reais ainda estão lá, depois de tanto tempo e tantas mentiras.

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