domingo, 21 de setembro de 2008

A satisfação que os Stones procuravam

Quer saber como encontrar? Ahá, essa dica vale dois bilhões de euros, hein?
Qualquer um alcança... É só pegar o ônibus certo! Sim, ônibus!!, nada de trem pras estrelas hoje, a satisfação está bem mais perto! Ah, você pode chegar de metrô também, mas vai andar um pouquinho...

A satisfação atende pelo nome de Laranjeiras.
A rua das Laranjeiras com seu trânsito infernal!
A rua das Laranjeiras com milhões de crianças saindo dos mais diferentes colégios.
As ruas de Laranjeiras com suas árvores acolhedoras, suas sombrinhas que pedem devaneios românticos e utópicos, devaneios de uma velhice boa como é bom o agora, uma velhice ali, em Laranjeiras, como os velhinhos que levam tranquilamente seus cachorrinhos pra emporcalhar as deliciosas ruas do meu delicioso bairro.
Sim, meu bairro. Primeiro lugar que eu vi do mundo. Primeiro ar que eu senti entrando nos meus pequeninos, e então virgens, pulmões.
Talvez por isso o ar que venta por Laranjeiras me pareça diferente. Menos poluído, menos pesado. Sempre fresquinho, sempre renovador. Novo e cheio de lembranças doces.
Pela manhã a brisa geladinha deixa tudo com uma aparência de filme romântico, daqueles que o casal se ama loucamente e alguém morre no final. O cheirinho de pão fresco, as crianças indo pro colégio, os velhinhos -com seus perfumes exagerados e seus cachorrinhos porcalhões- caminhando, o bar da esquina abrindo e já fritando um monte de porcarias gostosas. O cheiro das flores, o cheiro da vida que acorda mais um dia, alegre, nas Laranjeiras.
Na hora do almoço tudo é incrivelmente caótico como um filme do Stallone, com um trânsito pior que o paulista e um solzinho fugido de Copacabana para esquentar um pouquinho o pedacinho mais encantador do Rio de Janeiro. No princípio era o Kaos, como diria a professora de grego, e fica um caos até que a tarde caia como um véu de blues sobre nós.
Junto com o fim das crianças, dos velhinhos e do caos, Laranjeiras volta a ser dos apaixonados e apaixontes jovens (sim, pra se morar em Laranjeiras tem que ser apaixonado, por qualquer coisa, pelas laranjeiras que já não existem).
Parece uma daquelas comédias românticas, mas com um toque de filme 'cult'. Os bares vão abrindo enquanto o céu vai escurecendo. Quando se vê já não há espaço nas calçadas e uma multidão de caras sorridentes está sentada em cadeiras de plástico, reunida em mesas de plástico, com muitas garrafas em cima. Alguns casais ou apaixonados sozinhos passeiam com seus cachorros, que emporcalham mais um pouco, ou alugam um filminho pra mais tarde. Outros voltam da academia, tranquilos, pensando, na calma de se chegar em casa ou na pressa de se arrumar pra sair mais tarde.
Entrando na noite os amores vão esquentando, alguns vão pra casa cedo, outros acabam cedo. Mas sempre se encontram amores e amigos, nove da manhã ou quatro da matina.
Essa é uma das belezas das Laranjeiras. Você sempre encontra, mesmo que não esteja procurando.
E eu sempre direi que meu bairro é o bairro das Laranjeiras, o único que satisfeito sorri quando me vê e que eu respiro completamente feliz com o sorriso, impossível de conter, brilhando no rosto.
O bairro que eu sinto falta todos os dias, os amigos que eu sinto falta todos os dias. Cada pedacinho de cada ruazinha tem um significado. Até mesmo a sede do Fluminense me traz boas lembranças.
É por isso que eu digo com todas as letras e contra uma multidão: "O meu Rio de Janeiro são as árvores e sombras de Laranjeiras, não as ondas e sol de Copacabana!"
Aí está a minha satisfação! Andar até as Lojas Americanas, ver o Hospital de Cardiologia, o Instituto de Surdos e Mudos. Andar mais um pouquinho e comer uma esfirra. Tomar um suco com amigos numa lanchonete bacaninha ou comer pastel de manhã, numa feirinha lá em cima, na adorável General Glicério. Olhar vários minutos seguidos o saudoso Colégio da Providência que parece ainda guardar um pedaço de mim, o meu pedaço mais caro. Comer pizza ou sentar num boteco e jogar conversa fora. Reencontrar amigos e amores.
Respirar e sorrir como em nenhum outro lugar.

(O trem pras estrelas ainda vai para lugares ótimos, mas nada que se compare ao meu precioso laranjal)

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